sábado, 6 de dezembro de 2014

Eu tento fazer poesia...

Luz

Entendo a luz como um efeito disforme de cores
Não me vejo no espelho
Sinto do mundo as dores
Acordo mais cedo, mas não sei aonde ir
Caminho a passos largos por ruas estreitas
Olho para o infinito, olho para lugar nenhum
Minha vista cansada arde
A fumaça inebria de um jeito doentio
Volto pra casa cansado e doente
Deito na cama sem dormir
Durmo para não querer acordar
A janela traz os barulhos de fora
Equívocos, tiros, buzinas
A voz esganiçada louvando um deus surdo
Finjo de morto, rolo na cama, ligo a TV
A doença do mundo invade meu cérebro
Que se esvazia enquanto o jornal me massacra
Transito por canais com programas inúteis
Pessoas fúteis, notícias amargas
Filmes antigos, enlatados gringos
Está na hora de sair
Mas a luz me ofusca
Perdi meus óculos escuros

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Dez vezes você

Fiquei procurando palavras para escrever sobre nós, sobre como há dez anos aceitamos que um seria do outro para sempre. Tentei me lembrar das palavras do juiz, mas a memória não ajuda quando há tanta coisa pra lembrar. O importante, de fato, é que hoje é um dia especial para mim, pois neste dia aceitei que seria seu oficialmente, mesmo sabendo que isso já era um fato consumado, antes mesmo de trocarmos alianças.

Em dez anos nós vivemos tantas coisas, boas, ruins, nem tão boas, nem tão ruins, mas o mais importante é que vivemos tudo isso juntos. Nos dias mais angustiosos eu tinha certeza que você estaria lá por mim. Nos dias mais felizes eu tinha você para compartilhar a alegria.

Nossa vida deu voltas e voltas nesse tempo todo, mas onde quer que fosse, onde quer que estivesse, era um alívio olhar para o lado e ver que estava ali comigo. 

Você é mais que a mulher que escolhi para viver pelo resto da vida, você é meu porto seguro, meu oásis, o ombro amigo nas horas difíceis, o riso largo nas horas tranquilas, meu amor, minha cúmplice e todos os outros clichês que couberem dizer neste momento.

Obrigado por tudo que vivemos, por tudo que vamos viver. Obrigado por deixar meu mundo melhor, obrigado por suportar meus dias ruins, por me fazer ir em frente. Obrigado por ser minha cúmplice. Feliz nosso dia. Te amo.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O Brasil não está e nem será dividido, ele sempre foi...

Nesses tempos onde parece que a razão foi posta definitivamente de lado, principalmente do lado azul, mas sem isentar o lado vermelho, vive-se uma discussão de que o País está dividido ou que será dividido, independentemente de quem vença as eleições. Mentira. O Brasil sempre foi dividido. Antes de mais nada, para os azuizinhos que adoram dizer que o PT quer dividir o Brasil, semeando a discórdia, deixe de ser hipócritas, pois vocês já fizeram essa divisão, em 1.500.

Só quem já foi seguido pelo segurança de um shopping ou de uma loja sabe o que é viver em um país dividido. Só quem já foi parado pela polícia pela cor da pele ou ela roupa que veste, sabe o que estou dizendo, só quem já foi marginalizado por sua profissão, credo, sexualidade, sabe o que estou dizendo. Não tentem colocar na boca de qualquer petista o discurso do ódio que vocês repetem como mantra há tantos anos.

Ser filho de pai negro e mãe branca me ajudou a ver como nossa sociedade burra e subdesenvolvida vela seus preconceitos. Onde já se viu, um negão com uma branquinha e filhos alvinegros? Minha pele mais clara nunca me ajudou, pelo contrário, muita gente sempre olhou torto ao me ver de mãos dadas  com meu pai e, mesmo anos depois, ao vê-lo de mãos dadas com seu neto, meu filho.

E não estou dizendo que o preconceito está apenas nos coxinhas do outro lado da ponte sobre o Tietê. Muita gente do lado de cá olhava torto com aquela cara de "isso não está certo". Mas o que está certo? As pessoas conseguem adorar a um mesmo Deus e ainda assim brigar pelo monopólio de adorá-lo. É ridículo.

Não se trata de nós contra eles, do povão, da elite, do branco, do negro, do coxinha, do descolado, do patrão, do empregado. Não deveria haver nós e eles, mas é difícil colocar na cabeça das pessoas esse tipo de ideia. A intolerância é um veneno que mata aos poucos, isso quando não mata rápida e violentamente. E a pior parte é que a intolerância sempre esteve aqui e parece que criou raízes.

Quando alguém faz um discurso chamando nordestinos de burros por votar neste ou naquele candidato, é preocupante, mas ao mesmo tempo é um alento, afinal, os racistas, intolerantes, preconceituosos, machistas estão mostrando sua cara e todos vestem azul (e amarelo).

E para que não me acusem de generalizar, sei que nem todos os que estão com o candidato a motorista da Granero (o homem da mudança) pensam como os filhotes da ditadura (valeu Brizola) que abraçaram Aécio Neves como um novo brinquedo e uma nova esperança de recuperar seus privilégios, garantidos pelos milicos da ditadura. Mas, infelizmente, vocês que não possuem nenhum dos adjetivos negativos que citei, estão abraçados aos que tem, em nome de um único fim, eleger Aécio. Me perdoem, mas omissão também é crime.

Vivemos em um país dividido desde 1.500, quando os coxinhas de Portugal invadiram o Brasil e mataram os índios. Não adianta tentar imputar a culpa de seus preconceitos a um partido ou a uma pessoa. A culpa é de vocês, que estiveram sempre lá e nada fizeram a não ser aumentar mais e mais essa divisão. Lamento se a verdade dói e lamento que vocês achem que o mundo é tão de vocês que ninguém pode pensar o contrário e, pior, se atrever a externar seus pensamentos.

O mundo mudou, meus caros. O Brasil mudou. Querendo vocês ou não, a gente diferenciada e desinformada está aqui, como sempre esteve, só que agora essa gente não tem porque se esconder e não tem porque temer. Vocês dividiram nosso país, nós saímos da sombra para juntar os pedaços dele e devolvê-lo a quem de direito e convidá-los para caminhar juntos e transformar o Brasil em um lugar bom para todos. Agora, se ainda quiserem o Brasil dividido, por favor, peguem o mesmo voo que o Lobão. Miami os aguarda.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

A vida é uma aventura, Pedro

Parece que foi ontem que você nasceu e quase cabia na palma da minha mão. Tinha medo de pegar você no colo, porque sempre parecia que ia parti-lo ao meio, ou derrubá-lo, tal fragilidade de ser tão pequenino. Acho que todo pai se sente assim, afinal, diferente da mulher, que tem esse instinto natural de mãe, nós somos naturalmente desajeitados. Mas sobrevivi aos primeiros dias, semanas, meses. E você também, rs.

Gostava de embalar você nos meus braços e tentar fazê-lo dormir. Sim, tentar, porque as longas madrugadas passavam e você insistia em ficar me olhando. Acho que esgotei todo repertório de músicas calmas que eu sabia e, pensando bem, acho que você não dormia porque me ouvir cantar era uma tortura, mas como você não chorava, achei que podia funcionar. O melhor mesmo era conseguir o milagre de fazer você pegar no sono e, ao colocá-lo no berço, você abrir os olhos como quem diz: "por que parou?"

O tempo foi passando e você deu os primeiros passos, deu seu primeiro chute, descobriu que correr por aí é um grande barato, descobriu que riscar as paredes era uma obra de arte e que pintar os balões com as falas dos personagens do gibi era muito legal.

Veio a escola e a angústia de não saber se você ia se adaptar, se você ia se dar bem, se ia gostar. Mas parece que tudo o que é difícil para um pai é fácil para o filho. Confesso que sou medroso em tudo que diz respeito a você, mas que pai não é?

Mudamos de lá para cá, daqui para lá e você crescia, se divertia, e dava tantas alegrias que mesmo os momentos mais conturbados foram superados, com dificuldades, mas sabendo que valeria a pena continuar lutando, porque não era o meu futuro que estava em jogo, mas sim o seu.

Nem tudo foram flores, mas que criança não tem seus momentos de teimosia e de traquinagens. Não fosse assim não seriam crianças. Perdi a paciência algumas vezes e me arrependi de todas elas.

E assim viemos até aqui. Nove anos depois você não cabe mais na minha barriga, apesar de insistir em deitar sobre ela. Hoje é um dia tão especial, que talvez nenhuma palavra seja suficiente para dizer o quanto você é importante e o quanto fez diferença na minha vida. Meu pequeno herdeiro Pedro, feliz aniversário! Espero que possamos passar muitos mais juntos e que sua vida seja essa grande aventura sempre, que começou nove anos atrás e deve continuar por mais 90, no mínimo.

Amo você carinha. Felicidades.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O medo da imprensa tucana

Dilma e Marina podem fazer o segundo turno das eleições (Foto: Montagem/Agência Brasil)
Ao contrário do que pensam alguns, não acho que os calunistas da grande mídia, porta vozes da direita babenta e retrógrada, estejam torcendo para Marina assumir a lacuna deixada por Eduardo Campos e concorrer à Presidência. Pelo contrário.

Sinto que os arautos do caos estão temerosos com a possibilidade de Marina se candidatar, porque o discurso de "mudança" apregoado por Aécio, combina mais com ela. Marina pode aglutinar para si votos que estão com Aécio com os votos de indecisos e tomar o segundo lugar do tucano.

Dilma pode até perder alguma coisa, mas duvido que fique abaixo dos 35%. Aí, o segundo turno entre Dilma e Marina vai ser o drama da direita, já que terão de escolher entre a ex-guerrilheira e a ex-seringueira, discípula de Chico Mendes.

A única coisa que as viúvas de FHC podem comemorar é uma vitória de Marina contra Dilma e a fragilidade dela no Executivo, sem uma base sólida no Congresso para sustentar um hipotético governo.

Posso estar errado, mas acredito que Marina será a candidata e, com isso, Aécio descerá a ladeira em ritmo acelerado. Como não tenho bola de cristal nem poderes mediúnicos, tudo o que escrevi pode não se concretizar. Mas como se trata de política, são apenas conjecturas.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

50-6 ou Reflexões de um Aniversário

Um dia eu fui assim...
Sou do tipo de pessoa chata. Quem me conhece sabe disso, mas acredito que ser chato faz parte do meu charme natural (rs). Aliás, Jeniffer, minha companheira de trabalho nas madrugas da Rede TV, me chama de "Senhor Wilson" quando reclamo.  Quero acreditar que estou mais para Dennis, o Pimentinha, mas não tenho mais idade para isso.

Por falar em idade, chegamos ao motivo real deste post, que é falar da minha: 50-6 ou 44 para os íntimos. O tempo passou numa velocidade maior do que eu esperava, apesar de parecer que o tempo parou em alguns momentos. Sempre que faço aniversário penso no que poderia ter feito diferente, mas, quer saber? Sempre chego à conclusão de que vivi minha vida o melhor possível e assim continuo vivendo, assim continuarei. Erros e acertos fazem parte do processo e acho que mais acertei do que errei.

Posso dizer com segurança que sou uma pessoa feliz. Usando o clichê, não tenho tudo o que imaginei que teria, mas conquistei muitas coisas e essas conquistas são meus troféus. 

Acho que meu maior medo quando era mais novo era chegar na faixa dos 40 e ser o cara que o Supla zua no comercial do bomnegocio.com, o "papaizinho sério". Continuo rock'n'roll, crazy! Acredito que a personalidade da pessoa não se mede pela idade. Não precisamos ser crianças, mas não podemos perder a essência da infância, não importa qual a idade. Espero que chegue aos 88 sem perder isso. 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A polícia que reprime o 'rolezinho' mas permite o pancadão no meio da rua

Moro na periferia. Cansei de ligar para a PM e solicitar alguma providência com relação à baderna que provocam aqui quando promovem os pancadões. Eles ignoram. Lógico, aqui é periferia. Fosse eu morador dos Jardins, das Perdizes, ou de qualquer outro lugar coxinha do outro lado da ponte, eles viriam. Mas não é o caso.

Acho curioso a fúria com que algumas pessoas se referem aos 'rolezinhos'. Aparentemente a molecada pobre da periferia não pode ir ao shopping, seja em bando, seja um casal. O estereótipo já foi criado, se você é negro, usa bermuda largada e boné para trás, será barrado no shopping e agredido pela polícia.

Acho estranha essa ação da PM, tão exagerada, com bombas de efeito moral e apreensões de adolescentes que não fizeram nada além de ousar se reunir e 'invadir' o reduto de compras da classe merda, ops, média paulistana. Estranha,porque não é a mesma ação nos pancadões regados a bebidas alcoólicas e drogas, com menores de idade sendo corrompidos.

Perguntar não ofende: por que a mesma PM que atende o chamado dos shoppings não atende os chamados das pessoas de bem da periferia, que querem sossego e não aguentam mais ficar a mercê dos pancadões organizados por gente de péssima índole? A periferia não é boa o suficiente para ter um pouco de atenção da PM?

Moro na periferia e vou ao shopping de vez em quando. Já vi barbaridades causadas por filhinhos de papai descontentes de suas vidinhas tediosas e nenhuma ação por parte de seguranças e da polícia. Afinal eram loirinhos, branquinhos, bem vestidos e foram entregues na porta pelas mamães em seus carrões.

Mas o pretinho da periferia, que foi de ônibus, de trem, de metrô, não pode se aglomerar nos shoppings. É contra as normas de conduta dos coxinhas bem nascidos. Os mesmos coxinhas, pasmem vocês, que ouvem funk na novela da Globo e acham demais. Eu acho uma merda, a Globo, o funk e os coxinhas.

Da próxima vez que rolar um pancadão aqui na rua vou ligar para a PM e dizer que é um 'rolezinho'. Quem sabe ela não aparece? Eu duvido, até porque a PM só vem na periferia depois que a merda acontece. O pancadão do lado norte da cidade tem a conivência da polícia, apesar de ser prejudicial para a maioria das pessoas honestas que vivem por aqui.

Já o 'rolezinho' do lado de lá da ponte, entre as paredes bem pintadas dos shoppings, virou crime, motivo de raiva e preconceito, motivo de comentários de gente que nem sabe o que está acontecendo mas acha que é 'expert' no assunto. Se acha o 'rolezinho' ruim, venha passar um sábado aqui comigo, ao som do pancadão. Vamos ver o que é pior.