sábado, 13 de abril de 2013

A violência é tão fascinante?

Com todo o respeito à família do rapaz assassinado friamente e cruelmente na porta do prédio em que morava no Belém, zona leste de São Paulo, mas por que a mídia não dá importância às tragédias que acontecem todos os dias na periferia?
Moro na periferia, sei do que estou falando. Quando morre alguém na periferia, a primeira coisa que os urubus da imprensa fazem é checar se não tinha antecedentes. Ninguém vai checar se ele tinha família, filhos, esposa, mãe, pai. Vai atrás de ficha criminal. E quando não acham nada, fazem aquela matéria meia boca. Na periferia somos alvo de bandidos e polícia.
Quando saio com meu carro e cruzo com uma viatura eles ficam olhando, como se dirigir um carro fosse crime. O tráfico de drogas rola solto nos pancadões da vida e tem gente que ama funk como se fosse o suprassumo da cultura. Me poupem.
Para cada pessoa de classe média que morre nas mãos de bandidos, pelo menos dez pobres morrem nas mãos de bandidos e da polícia.
A mídia só dá importância se acontece com as famílias bem sucedidas, ninguém está nem aí se a mesma coisa acontece na periferia. Outro dia assaltaram um senhor, que ia de moto para o trabalho, às 9h30 da manhã. Foi em Pirituba, que é periferia, mas um pouco mais estruturado. Onde estava a polícia? Onde estava a imprensa? Nada. Se fosse nas Perdizes ia ser motivo de indignação e protestos contra a violência, mas foi em Pirituba. Quem liga?
Minha irmã morou nas Perdizes, porque meu cunhado era zelador de um prédio nas proximidades da PUC. Certa noite a polícia foi até o local porque um morador ligou para o 190 para reclamar do gato da vizinha que estava miando e não o deixava dormir. Pode isso Arnaldo?
Sabem quantas vezes eu liguei para o 190 para denunciar o pancadão com consumo de drogas e bebidas por menores de idade? Perdi a conta. Sabem quantas vezes a polícia veio? NENHUMA!!! Um gato miando nas Perdizes incomoda mais do que o funk rolando no meio da rua em Taipas.
Parece que só existe tragédia e violência do outro lado do rio Tietê. Quem mora do lado de cá da ponte que se dane. A mesma violência que acontece no Belém, no Alto da Lapa, na Pompeia, nas Perdizes, no Tatuapé, acontece na Freguesia, em Pirituba, no Jaraguá, em Taipas, em Perus. Não somos piores do que ninguém por morar na periferia. Não somos bandidos, não somos os criminosos.
A primeira coisa que a polícia fez para achar o assassino do estudante Victor Hugo foi invadir uma favela. Quer dizer, o criminoso tem que ser favelado, não é?
Minha amiga Luciana Mendonça lembrou bem em seu perfil no Facebook: até agora o riquinho menor de idade que atropelou e matou uma menina em Bertioga no ano passado leva sua vida normalmente. Ele não é o "de menor"assassino e criminoso que os apresentadores gritam nas tardes da TV aberta. Ele é o jovem que cometeu um erro.
É assim que é. Menor de idade infrator, se é pobre, é criminoso, se é rico, cometeu um erro. Infrator é infrator, não importa a classe social! O cara branco de olhos azuis que mata é tão assassino quanto o negro de cabelo ruim que mata. Não há diferença. A única diferença é que o rico pode pagar os honorários do excelentíssimo senhor Luiz Flávio Borges DÚrso, enquanto o pobre depende da defensoria pública.
A violência é tão fascinante e nossas vidas são tão iguais, mas uns são mais iguais do que os outros.