terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Então, é Natal. E daí?


Não pense que vou achincalhar o Natal. Se fosse alguns anos antes até faria isso, mas, depois que o Pedro nasceu as coisas meio que, mudaram de configuração. Não é que eu tenha amarelado e aceitado o bom velhinho em minha vida, ainda estou mais para Jack Skellington do que para Papai Noel. Porém, a fantasia faz parte da vida da criança e essa fantasia não pode ser quebrada, sob pena de transformar uma criança em um adulto precoce.

Mas o fato de ter aceitado tolerar o velho barrigudo de roupa vermelha de inverno em pleno verão dos trópicos não significa que tenha mudado meu conceito sobre a farsa que é o Natal. As pessoas fingem muito mais nessa época do ano. Esse tal de "espírito natalino" é uma espécie de compensação pelas péssimas ações de algumas pessoas ao longo do ano.
Basta ver quem é que sempre faz campanhas para ajudar os mais necessitados no Natal. São sempre os mais ricos. É muito lindo ver aquelas dondocas de salto alto amassando barro na periferia com seus saltos e abraçando as crianças descalças. Agora, imagine se um dia a criança reconhecer sua "benfeitora". Imagine a cena: Mulher de empresário, que mora em condomínio de luxo para seu carrão no farol e vem a criança vender bala. "Moça, compra uma bala para me ajudar, é só um real". "Não tenho nada hoje. Dá licença". Sem nem sequyer abrir o vidro do carro, vai que é assalto.
No dia seguinte lá vai a dondoca para a periferia entregar presentes que outras pessoas doaram, mas que dará status para ela. Nisso, chega a criança do farol. Espera aí, conheço a senhora, tia". Um rubor toma conta do rosto da madame. "Ontem a senhora não quis comprar uma bala minha e ainda me tratou como se eu fosse bandido". A conversa da criança chama a atenção do repórter que está ali para cobrir o "evento beneficente". Ele vai até lá, chama o fotógrafo que dispara sua câmera enquanto o repórter começa a entrevistar a criança.
Descobre que ela é órfã de pai, mas a mãe rtabalha como diarista. Ela vai à escola de manhã e à tarde vende balinhas de goma nos faróis para ajudar no orçamento da casa. A madame, nessa altura já se mandou, alegando compromissos inadiáveis. O repórter ainda tenta falar com ela pelo telefone, mas não tem sucesso. A matéria nunca vai sair, afinal, a dondoca é amiga do diretor do jornal e seu marido é anunciante. Ou seja, a história daquela criança não será contada.
Mas a dondoca ainda vai visitar muitos bairros e abraçar muitas crianças pobres até o Natal. Pena que, durante o resto do ano, ela vai continuar protegida pela blindagem do seu carro, ignmorando a existência dessas crianças. Será que se o Papai Noel existisse de fato, diria que a dondoca foi uma boa menina? Quem sabe. Talvez papai Noel veja bondade além do que as pessoas deixam transparecer.
Ah, a criança saiu dos faróis. Conseguiu uma bolsa de estudos com ajuda de uma entidade e está muito bem, obrigado. O repórter foi demitido do jornal, mas está muito feliz em seu outro emprego. A dondoca continua mantendo as aparências, já que as empresas de seu marido estão à beira da falência. E tudo isso é ficção. Mas quantas ficções desse tipo existem por aí, não é mesmo?

Eu queria ser...


...escritor! Tá, eu sei o que vão dizer: "Nossa, escritor? Mas isso dá dinheiro?". Deve dar, mas não é pelo dinheiro que eu queria ser escritor. Queria poder colocar no papel um turbilhão de coisas que passa pela minha cabeça, principalmente nos momentos de insônia.
Alguma vez você já se deparou inventando estórias na sua cabeça, com cenários, nomes e lugares qu nunca viu antes? Se isso já aconteceu com algum dos meus seis leitores, então essa pessoa sabe o que quero dizer. Meu maior problema é não conseguir tirar isso da cabeça e transferir para a tela do computador.
Deveria existir um ctrl+c ctrl+v para ideias. Já imaginou? Pensar em alguma coisa, ativar o sistema e, automaticamente, tudo vai parar no disco rígido. maravilha! pena que não é assim.
Não é que eu não tenha tentado. Já sentei um milhão de vezes em frente ao PC para "começar um novo best seller". Bobagem. Nunca saí do primeiro capítulo, aliás, um capítulo bem curto. Isso sem falar na sensação de estar escrevendo algo que alguém já escreveu. Não tenho essa cara de pau.
No fim das contas, virei jornalista. Quer dizer, não virei, aceitei a missão. Sim, sou daqueles que acreditam que o jornalismo é um dom que nasce com você. Eu queria contar histórias. Não consegui fazer ficção, decidi contar o cotidiano.
Não é a mesma coisa, mas me satisfaz. Apesar de que, em alguns momentos, sinto que deveria insistir mais no que eu queria ser, principalmente quando leio certos livros de sucesso por aí. Ah, eu escrevo bem melhor do que muita gente famosa. Você não?