sexta-feira, 22 de abril de 2011

Ônibus

Se você nunca teve a oportunidade de andar de ônibus em São Paulo, não sabe o que está perdendo. Primeiro, limpe sua cabeça e esqueça o horário de pico, o cheiro de suor, o bafo de cachaça, o som dos idiotas ligado no último volume, invariavelmente tocando funk ou outra merda qualquer. Para andar de ônibus é preciso muita paciência.
Antes que alguém me pergunte, eu não tenho essa paciência toda. Ora, dirão meus seis leitores, então por que você diz que andar de ônibus é bom? Quem disse isso? Apenas falei que quem nunca andou, não sabe o que está perdendo. Simples. Voltando ao assunto, dentro do coletivo você pode ouvir várias histórias, mesmo que não queira.
Acreditem ou não, já ouvi brigas de casais, gente combinando processar o vizinho, reclamando da mãe, do namorado, do marido, da empregada, da escola dos filhos. Pasmem, ouvi muitas dessas conversas com o fone no ouvido, imaginem o quão alto essas pessoas costumam falar. Mas há um lado positivo de andar de ônibus, desde que você tenha a sorte de ir sentado.
Pela janela da condução conseguimos observar coisas que não prestamos atenção quando estamos de carro, dirigindo ou não. A cidade tem coisas bonitas para se ver por trás de toda aquela casca cinza. Basta olhar com outros olhos. Passe por qualquer ponte que corta o rio Tietê à noite e esqueça que ele é sujo. Veja as luzes da marginal e dos carros que passam refletindo nas águas. Sim, dá para ver o reflexo.
Por um momento é possível esquecer que aquele rio cheira mal em dias de calor e transborda quando chove demais. Há construções antigas em Sampa, que valem uma olhada. Eu tenho curiosidade para saber a data em que foram erguidas e as histórias que possuem. De dentro do ônibus consigo imaginar essas histórias.
Ajuda a passar o tempo e esquecer que tem um folgado do meu lado com problemas na virilha, já que está quase fazendo um espacate no banco. Para ser honesto, eu gosto mesmo de andar de ônibus, mas adoraria que as pessoas fossem educadas e respeitassem os outros. Infelizmente a individualidade tornou as viagens mais cansativas.
A falta de respeito de uns com os outros, do poder público - que insiste em deixar o povo esperando horas pela condução -, de motoristas, cobradores, fiscais, passageiros. Tudo isso torna as viagens mais longas e insuportáveis. É possível ver um lado positivo? Até é, como já citei aqui. Mas para isso, é preciso muita imaginação.


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