segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A vida é mais dura só depois do carnaval?

Quando assisto o noticiário na tevê, leio os jornais, acesso a internet, fico  com uma estranha sensação de deja vu. Sabe quando você passa por um lugar em que nunca esteve e sente que o conhece de alguma forma, pois é. Mas, infelizmente não é apenas deja vu, é um filme repetido mesmo, desde que me conheço por gente.
Não é de hoje que as águas de janeiro castigam as grandes cidades - e as pequenas e médias também. Não é de hoje que o poder público entra em cena no começo de cada ano para dar suas justificativas furadas. Não é de hoje que os morros desbarrancam, as casas são arrasadas, as pessoas perdem bens materiais e, em muitos e assustadores casos, perdem a vida. Porém, não é de hoje que nada disso parece afetar a "festa popular" do carnaval.
Antes que me cornetem, entendo a necessidade de se divertir, entendo a alegria e a ansiedade com que as pessoas que gostam de carnaval aguardam essa festa. Entendo também o trabalho do ano todo feito pelas escolas de samba. Mas entender não significa aceitar.
E não é só o carnaval. As pessoas estão morrendo no Rio de Janeiro e a preocupação de alguns jornalistas, comentaristas e "autoridades" é se isso vai afetar a organização da copa do mundo e das olimpíadas. O que é isso? Há morte ali! Há dor! O que me importa se a copa ou os jogos olímpicos vão ou não se realizar? O que me importa se não houver carnaval? Não me importa!
O que preciso saber é até quando - e essa é uma pergunta que faço há muitos anos - os governos e os governados vão fingir que nada acontece ou inventar soluções paliativas para os problemas? Até quando as pessoas vão construir suas casas em áreas onde deveria haver terra e mato, não concreto? Até quando ficaremos reféns das chuvas e seremos pegos de surpresa, mesmo sabendo que isso acontece todos os anos? Até quando exaltaremos a solidariedade depois da tragédia, mesmo sabendo que a tragédia não deveria ter ocorrido? Até quando perguntaremos até quando?
Fica fácil apelar para Deus, São Pedro, Santo Expedito, anjos da guarda, Orixás ou qualquer outra força divina que se acredite. Fica fácil culpar a natureza. Fica fácil culpar o governo, quando para não pagar aluguel fazemos casas no morro ou nas margens de represas. Difícil é encontrar soluções, é sentar, pensar, fazer um brainstorm, ver o que já foi feito em outros países. Difícil é realizar! É irônico termos dinheiro para o carnaval, a copa e a olimpíada e não termos para resolver um problema que já é velho conhecido, que já entra sem pedir licença.
Nada disso é importante, porém. Logo chega o carnaval e esquecemos de tudo. Depois nós lembramos de novo.

Um comentário:

Mailson Furtado disse...

Belo blog, belo post!!!

PArabens muito bom...

Convidaria vc a conhecer meu... Ficaria muito feliz! http://mailsonfurtado.com