quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O cinismo da APJ e a falsa defesa da liberdade de expressão


Chamou a atenção uma nota assinada pela Associação Paulista de Jornais (APJ) contestando a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que visa restabelecer a obrigatoriedade do diploma para exercício da função de jornalista. Infelizmente, como sempre é no caso da referida entidade, chamou a atenção de forma negativa.
Não vou entrar no mérito da legalidade da PEC, nem dos motivos que levaram deputados e senadores a formularem duas propostas nesse sentido. O que discuto aqui é o cinismo dessa entidade, formada por donos de jornais e seus papagaios de pirata, gentilmente chamados de diretores, editores e gerentes.
A primeira mostra de cinismo está no fato de a APJ se colocar contra o regime militar,m quando todos sabem que a maior parte dos proprietários de jornais sempre beijou a mão dos generais. Em Bauru é notório que Alcides Franciscato, proprietário do Jornal da Cidade, foi deputado e prefeito sob as asas dos militares, já que integrava a Arena, partido que dava sustentação aos golpistas de 1964. A APJ é presidida por Renato Zaiden, diretor do JC e “amigo” de Franciscato.
Ora, só este exemplo já derruba por terra a tentativa da APJ em ser defensora das liberdades, quaisquer que sejam. Mas a entidade insiste em dizer que a não exigência do diploma garante liberdade de expressão. A quem? Desafio qualquer dono, diretor, editor, gerente, ou seja lá o cargo que ocupe essa gente, a me mostrar que seus jornais dão plena liberdade editorial aos jornalistas. Se não, onde está propagada liberdade de expressão?
O grande público pode até não saber, mas nenhum veículo de comunicação dá liberdade aos seus repórteres e jornalistas. Tudo se resume à linha editorial definida pelos patrões. À exceção de artigos de opinião, cuidadosamente seguidos pela velha frase: “o texto publicado é de inteira responsabilidade do autor e não traduz o pensamento do jornal”, o resto é devidamente controlado. Falar em liberdade de expressão em jornais que praticam escandolosamente o assédio moral contra seus funcionários é, no mínimo, vergonhoso. Cai por terra mais uma falácia da APJ.
A entidade cita ainda “as democracias mais avançadas do mundo, onde o exercício da profissão de jornalista dispensa o diploma e os cursos de jornalismo exibem cada vez mais vigor e qualidade incontestáveis”. Chega a ser cômico a APJ citar esse trecho, que derruba todo seu texto. Claro que as democracias mais avançadas não exigem diploma, mas nem por isso quem quer trabalhar em jornal deixa de fazer o curso de jornalismo que, como a APJ diz, “exibe vigor e qualidade incontestável”.
Chega a ser ridícula a posição patronal neste caso, ainda mais sabendo que muitos diretores e donos têm participação direta em faculdades de jornalismo caça-níqueis. Onde está a coerência, Renato Zaiden e Fernando Salerno?
A APJ também “esqueceu” que nas democracias mais avançadas do mundo existem comissões de ética e conselhos de jornalismo que impedem as mazelas de maus profissionais e controlam a ânsia desenfreada de editores. Nas democracias mais avançadas do mundo senhores Zaiden e Salerno, existe liberdade de expressão de fato, não a balela que os senhores publicam em seus jornais todos os dias. No entanto, há responsabilidades, algo que no Brasil não existe, porque donos de veículos de comunicação rechaçam a idéia.
Por fim, se formos derrubar todos os resquícios do autoritarismo, desculpa usada para por fim à obrigatoriedade do diploma, vamos ter que derrubar centenas, senão milhares de leis ainda vigentes. A APJ diz que “a sociedade tem o direito de ser informada sem qualquer espécie de tutela”. Então, desafio os senhores Zaiden e Salerno a tirarem suas garras do conteúdo editorial dos seus jornais e conclamarem os seus amigos de APJ a fazerem o mesmo. Deixem os repórteres sem amarras, publiquem matérias negativas de seus anunciantes, parem de censurar as colunas dos leitores. Isso sim é liberdade de expressão!
A qualidade de seus jornais está semelhante a um panfleto mal redigido. Já li blogues mais estruturados e com mais conteúdo do que as publicações da APJ. Mas a qualidade não é ruim por causa dos jornalistas e, sim, pelo cabresto colocado nos profissionais, que NÃO TÊM LIBERDADE para escrever. Se a APJ respeita mesmo o que escreveu, de acabar com resquícios do autoritarismo, deveria encerrar suas atividades agora, pelo bem do jornalismo e da verdadeira liberdade de expressão.

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